CARO CARÁ,
Talvez você
não se recorde de minha pessoa, assim, logo de cara...
Sou eu, aquela santista que adorava aqueles pãezinhos, vendidos lá em Santos...
e aos quais você estava totalmente
integrado, lembra?...
De cara, já dava para perceber se estavam fresquinhos ... e sempre pareciam tão
apetitosos!
Mas, se o cara da padaria não desse as caras ao final de cada tarde... era uma
desilusão completa...
Cara, nem te conto! Triste mesmo, cara pálida!
Mas, afinal... quem é vivo sempre aparece!
E não é que você resolveu dar as caras aqui por Sampa também?
É certo que foi difícil assim, logo de cara, saber quem exatamente era você...
Pois, no mercado, um cara me disse que cará tinha cara de inhame... e de dois
tipos: um cabeludinho e outro, peladinho (e rosado)...
Caramba! Como assim? E qual deles usar para fazer o tal pãozinho?
Finalmente, a escolha... pelo ´jeitão fashion´, fiquei com o cabeludinho... me
pareceu a certa, logo de cara...
Te trouxe para casa – e fui pesquisar nos alfarrábios gastronômicos como
preparar o melhor pãozinho de cará!
Ah... cara! Que dilema!
Desde a receita de 1910 do livro de vó Rosa, até os ´testes´ de santistas
saudosos – como eu! –do tão pãozinho!!!
Então a escolha recaiu sobre uma receitinha básica, de um livrinho chamado
“Pães” – super simples, não é?
Domingão de manhã, acordo e ... vamos à luta! Pão de cará na lista dos afazeres
do dia!
Descasca, corta, põe para cozinhar... separa os outros ingredientes... prepara
tudo... põe a tal bolinha de massa dentro do copo d´água... todo o ritual,
completinho!
Escolha da trilha sonora: Demônios da Garoa, Tom Jobim, Noel Rosa...
Pãezinhos no forno ... ufa!
Aeeeeeee... Vitória!!!
Enquanto assam, escrevo-lhe estas mal traçadas linhas... ou melhor... digito
estas palavras, comovida...
Caramba, cara!
Careço de palavras para definir o sentimento que sinto neste
momento...
O pão está pronto!
Com boa aparência... ponho um generosa porção de manteiga Aviação e... testo!
Primeiro, ainda morninho... depois, já ´consolidado´ - e prefiro o segundo
teste...
A textura é macia, mas com a casquinha crocante ... o sabor, suave...
Não, não é (ainda) como o santista – infelizmente!
E faço uma leitura, crítica: da próxima vez, mais açúcar e talvez um pouquinho
de fermento... e tentar fazer a receita como outro tipo de cará – o rosadinho,
pelado.
Mas estou feliz com o projeto gastronômico finalizado!
Caro cará, você é o cara!!!
Em retribuição a estes momentos
tão incríveis, gostaria de convidá-lo para me acompanhar num café, mais tarde...
Com carinho,
Heu.